quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Súplica

Minha libertação ocorre através da palavra escrita
mas aquelas frases lançadas ao vento da poesia
não costumam me decepcionar.
Gostaria que minhas idéias não se trancassem no quarto
de vez em quando, como garotas rebeldes que não foram ao baile
não por falta de um par, mas pela proteção desmedida dos pais.
Ao contrário dessa situação, de assalto a criatividade me toma
semelhante ao cardume inesperado pelo pescador jaz em tristeza
e, como resultado, vão-se quase todas, e as melhores, pois que não estou
munido da rede e outros itens que poderiam apanhar toda a sorte da espécie
em abundância.
O quão difícil se tornou a minha convivência com toda uma humanidade
pois acabei infectado pelo comodismo alheio e a despretensiosa atitude
de deixar tudo para depois, e o depois aparece e eu não estou mais lá.
Um sorriso ilumina a minha visão, levando embora a escuridão da minha realidade
transportando-me para um plano etéreo, no qual as palavras
mostram-se agradáveis e possuem um sabor doce demais para o meu paladar.
Deixe-me voltar, ó sensação passageira de um porvir imaculado, para o meu mundo
onde a morte entristece, onde as feridas doem e cicatrizam, onde a tragédia é acompanhada
de camarote através da caixa eletrônica destruidora de cérebros e olhos que dizem:
“ainda bem que não aconteceu comigo. Antes ele do que eu”.
A nescidade do mundo é a tinta para a minha folha em branco.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Retrato do dia

Acorda pensando no dia exaustivo que terá pela frente. Noite anterior mal dormida, resultado da preocupação que o acomete enquanto tenta vislumbrar um futuro que, embaçado, mostra-se incerto diante de seus olhos.
Corpo raquítico, esqualidez que assusta intimamente quem o confronta com o olhar, na intenção de compreender como alguém chegou àquele estágio de vida.
Caminhando no meio-fio enquanto o trabalho o espera de braços abertos, questiona a sua situação e uma das pungentes respostas indica que a tendência é piorar, uma vez que as forças negativas e pensamentos pessimistas suprimem quaisquer resquícios de esperança.  
Sua vontade de ferro oxidou há muito, levando o sorriso que agora, raríssimo, não tem vontade de enfeitar o seu rosto.
Suas dores aumentam ao observar um mendigo deitado sobre o próprio vômito, abraçado a uma garrafa com um veneno alcóolico qualquer, assemelhando-se a uma criança e o brinquedo que acabara de ganhar. Uma relação de amor cafajeste, onde um dos amantes tem total controle sobre o outro, implicitamente despótico. Sua empatia prega-lhe uma peça, colocando-o como o protagonista daquela terrível e triste cena, causando-lhe um súbito pânico que o faz disparar como um cavalo xucro que recusa-se a ser montado.
Abatido por causa do esforço, recosta-se em um poste e as lágrimas decidem se rebelar. Tomam de chofre os seus olhos, servos do sentimento deplorável que tornou-se imanente ao seu brio despedaçado. Seu estômago o lembra de uma dieta rígida e forçada que passou a ter, e a mensagem queima de um jeito devastador. Decide deixar o trabalho de lado e passa a andar sem destino, procurando algo que deseja e já nem sabe o que é. Vê-se de frente a um viaduto que mais parece uma trilha com formigas metálicas. Olha para o céu e salta; parecido ao bungee jump que viu um dia desses na tevê, sabe que não tem corda nem volta. Próximo ao chão sente-se aliviado por saber que suas dores irão cessar depois de alguns segundos. O sangue colore a pista enquanto carros desviam do cadáver. Só mais um cadáver.