Basta que a melhora se aloje em minh'alma para que um sucessão de coisas ruins me cerquem novamente. Os meus medos retornam mais fortes e é quase imposssível de lutar contra os meus demônios. Eu me pergunto se isso um dia mudará e tenho um mau pressentimento quanto a essa resposta. Talvez eu saiba clara e perfeitamente o que vai acontecer e, sinceramente, não vejo solução. Não gostaria de um final trágico.
E em meio a tudo isso, eu procuro por algo que me mantenha esperançoso com relação ao dia a dia. Deus, pra ser mais preciso. Não o encontro. Começo a questionar e não obter resposta. Na verdade, obtenho respostas que não gostaria. Confirmações. É difícil mudar a mentalidade que um dia pertencera ao lado religioso. Da infância à adolescência eu estava lá, escutando pregações de pastores e missionárias, onde eles afirmavam e prometiam muitas coisas em nome de Jesus. E eu sentia medo, acima de tudo. Seguia a regras, não ao pé da letra, com medo de um dia não conseguir entrar no tão sonhado Reino do Céus. Também observava e prestava bastante atenção nas palavras “céu”, “inferno”, “demônio”, “Jesus”, “Espírito Santo”, “prosperidade”, “pecado”. Apresentavam-se quase sempre. E me faziam pensar, e pensar, e pensar; o medo era inevitável. Também sentia-me esperançoso por um lado, pois acreditava que alguém estava olhando por todos nós. E isso me acalmava até escutar as tais palavras novamente.
Decidi abandonar tudo isso, pois comecei a notar muitas atitudes incompatíveis com o lugar e a ideia de religioso em si. Não era santo, mas comparado àqueles que diziam temer a Deus e seguir fielmente sua voz através da bíblia, certamente conquistaria o meu lugar no céu com mais facilidade. Se a igreja é o lugar onde deveria haver respeito, compreensão, generosidade e amor ao próximo, por que é que também reina ali intrigas, inveja, fofoca e desavenças? “Ah, mas todos nós somos pecadores. Jesus está sempre a perdoar os nosso atos”. Entendo, mas o apropriado, pra não dizer coerente, não seria evitar todos esses tipos de “sentimentos” e atritos? Quer dizer, se você faz parte de algo considerado sagrado, deveria ao menos fazer valer a ideia e representá-lo como o tal. Em todos os casos, resolvi largar. Não conseguia aceitar o fato de existir grupinhos, panelinhas em um local onde todos deveriam viver em harmonia, como se fossem um, independente de suas diferenças.
Fora do círculo sacrossanto, comecei a notar muitas injustiças ao meu redor. Pessoas boas que se vão, pessoas más que ficam e continuam a disseminar e causar a maldade como se não vivessem para outra finalidade. Alguns com muito, outros com pouco. Uma desproporção que não condiz com o que eu costumava escutar: Deus está olhando por todos. Mas isso não surgiu, assim, de repente. Eu precisei sentir na pele. Digo, eu e meus familiares. Até então eu achava que toda a desgraça do mundo era natural. Não iria acontecer conosco, pois tínhamos Deus no coração, em nossas vidas. Ah, o doce gosto do fel veio na forma de engano.
“Deus, eu preciso de respostas. O senhor vai me ajudar?”, “Deus, ela está precisando e pedindo por misericórdia em seu nome. Ajude-a, por favor. Eu lhe peço”. Nada. “Olha, você não está suplicando com sinceridade. Tudo é no tempo do Senhor. Tenha fé e abra o seu coração”, uma das frases que mais escutei. Tudo no tempo de Deus. Faz sentido, só que se precisamos de uma resposta urgentemente, ou um sinal, que seja, por que este não o envia? Algo muito simples, por assim dizer.
Infelizmente o que encontrei foi totalmente o contrário ao que buscava. E me decepcionei. Gostaria mesmo que existisse algo maior que olhasse por todos. Mas esse mundo é uma grande ilusão. Não mais me prenderei à isso. O desapego é o que busco agora. Total. A família é a base, mas não estarão comigo pra sempre. Enquanto isso, acredito que a ciência pode me ajudar, de uma forma ou de outra, mesmo que o resultado seja catastrófico. Os meios é que não faltam.