Corpo raquítico, esqualidez que assusta intimamente quem
o confronta com o olhar, na intenção de compreender como alguém chegou àquele
estágio de vida.
Caminhando no meio-fio enquanto o trabalho o espera de
braços abertos, questiona a sua situação e uma das pungentes respostas indica que
a tendência é piorar, uma vez que as forças negativas e pensamentos pessimistas
suprimem quaisquer resquícios de esperança.
Sua vontade de ferro oxidou há muito, levando o sorriso
que agora, raríssimo, não tem vontade de enfeitar o seu rosto.
Suas dores aumentam ao observar um mendigo deitado sobre
o próprio vômito, abraçado a uma garrafa com um veneno alcóolico qualquer,
assemelhando-se a uma criança e o brinquedo que acabara de ganhar. Uma relação
de amor cafajeste, onde um dos amantes tem total controle sobre o outro,
implicitamente despótico. Sua empatia prega-lhe uma peça, colocando-o como o
protagonista daquela terrível e triste cena, causando-lhe um súbito pânico que
o faz disparar como um cavalo xucro que recusa-se a ser montado.
Abatido por causa do esforço, recosta-se em um poste e as
lágrimas decidem se rebelar. Tomam de chofre os seus olhos, servos do
sentimento deplorável que tornou-se imanente ao seu brio despedaçado. Seu
estômago o lembra de uma dieta rígida e forçada que passou a ter, e a mensagem
queima de um jeito devastador. Decide deixar o trabalho de lado e passa a andar
sem destino, procurando algo que deseja e já nem sabe o que é. Vê-se de frente a
um viaduto que mais parece uma trilha com formigas metálicas. Olha para o céu e
salta; parecido ao bungee jump que viu um dia desses na tevê, sabe que não tem
corda nem volta. Próximo ao chão sente-se aliviado por saber que suas dores
irão cessar depois de alguns segundos. O sangue colore a pista enquanto carros
desviam do cadáver. Só mais um cadáver.