sábado, 8 de outubro de 2011

Cinco Minutos

Venho observando que, últimamente, aqui nesse pindorama, uma parte da população, ínfima e espalhada entre as regiões existentes, resolveu olhar para si e ao redor e dar um basta nesta bagunça toda, após constatar o estado de penúria em que o país se encontra, financeira e intelectualmente falando.

Finalmente estão fazendo protesto e marchas, embora algumas delas sejam cópias descaradas do estrangeiro e com um sentido distorcido do original, como, por exemplo, a “Marcha das Vadias”. Embora eu não tenha visto essa marcha com bons olhos, assim como também não gostei da “Marcha da Maconha”, só o fato de estarem indo de encontro ao sistema, podre até o tutano, é algo bastante válido. Por quê? Ora, pelo simples motivo de que toda essa onda poderá mover mais e mais pessoas, também indignadas com o status quo. Uma espécie de “empurrãozinho do bem” para aqueles que querem a mudança, mas não sabem por onde começar.

De todas as marchas feitas até o momento, a “Marcha Contra a Corrupção”, que ocorreu no dia 7 de Setembro, data na qual é comemorada a Independência do Brasil, foi a mais importante, a meu ver, e que conseguiu reunir um grupo considerável de manifestantes, algo em torno de 25 mil pessoas em Brasília, uma das cidades participantes, dentre as 34 que abraçaram a idéia. Foi um bom começo e, de acordo com os rumores, já estão preparando outra para o dia 12 de Outubro.  Esperemo-la, pois.

O mais interessante disso tudo é que todas as idéias iniciaram-se e foram fomentadas pelos internautas, sinal de que nem tudo está perdido nesse mundinho virtual. Digo isso devido às imbecilidades que são adoradas e espalhadas por um grupelho de ignorantes e semianalfabetos, desde os mais pobres até os mais abastados (sem esse preconceito de jogar a culpa na inclusão digital). Vemos também o crescimento dos vlogs no Youtube, que estão bem diversificados hoje em dia, para todos os gostos e intelectos, do humorístico ao engajado.  O problema é que muitos deles estão se tornando como programas de tevê: te indicam o que comer, o que vestir, o que assistir, o que comprar, além de formar a opinião dos papagaios de repetição.

Falando em tevê, me vem à mente a polêmica do momento: a censura no humor. Duvido que exista um só ser que acompanhe as notícias do cotidiano e desconheça o episódio desastroso envolvendo o humorista Rafinha Bastos, integrante do programa CQC e apresentador d’A Liga, ambos exibidos na Band, onde, após o apresentador Marcelo Tás elogiar a cantora Wanessa, que está grávida, resolve soltar a seguinte piada: “Comeria ela e o bebê. Não tô nem aí!”. Pronto. Era o que faltava para gerar um frenesi  típico de brasileiro. A tal piada gerou o afastamento do humorista, que cedeu gentilmente o seu lugar na bancada à outra ameba que eu não sei o nome e não vou pesquisar.

Alguns defenderam o Rafinha, justificando que a piada não fez mal algum, afirmando que os que não entenderam o seu real sentido ou eram conservadores melindrosos ou burros demais.  Ah, claro, não podemos esquecer-nos do tal “politicamente correto”, que ora apresenta um sentido, ora outro, variando de cidadão para cidadão. Aquela salada mista onde as opiniões pessoais sustentam os argumentos. Na outra extremidade da balança, temos os juízes populares, munidos de paus e pedras, pedindo a cabeça do invertebrado pelo deslize cometido. Agora, os que defendem a liberdade de expressão protestam contra a censura, argumentando que, de acordo com a constituição, todos são livres para se expressar da maneira que bem entendem. Será?

Do meu ponto de vista, acredito que estão distorcendo demais o sentido da piada e, por conseguinte, o de liberdade de expressão. Entenda que ele só quis dizer que transaria com ela, mesmo estando grávida. De fato, a piada não foi lá de muito bom gosto, o que já era de se esperar em um programa de quinta categoria, com apresentadores menos nobres do que um cão sarnento, porém foi só uma piada. Quem acompanha o trabalho do mamulengo sabe que o mesmo não economiza nas piadas e não poupa ninguém, o que é até compreensível, só por sair do clichê das loiras, papagaios, gays e afins. “Ah, mas isto é um absurdo, pois ele está incentivando a pedofilia”. Se você pensa assim, ou ao menos cogitou, sinto lhe informar, mas, tu és o rei dos imbecis.

Confesso que também fico indignado quando fazem piadas contendo injúrias raciais, mas não é o fim do mundo. Pra falar a verdade, são poucas as piadas engraçadas que já escutei. Aquelas comuns, começando com loiras, passando por gays e terminando com gordos ou deficientes físicos ou mentais são as mais sem graça, por sinal. Mas gosto é gosto e o meu não lhe interessa. A questão está no respeito. E é isso o que pega no brasileiro, já que a maioria não faz a menor idéia do significado da palavra na prática.

Os que defendem a liberdade de expressão, neste contexto, especificamente, só querem uma única coisa: adquirir o total direito de falar o que lhes der na telha sem medo de represálias ou punições. Mas isso é a liberdade de expressão? Quero dizer, fulano ter o direito de ofender gratuitamente sicrano, e vice-versa, esquecendo que o respeito entre eles é necessário e que onde começa a liberdade de um, termina a do outro? Pois foi o eu que consegui interpretar ao ler diversas opiniões sobre o assunto, espalhadas pela internet. Sinceramente, tudo isso se tornou algo sem sentido, pueril, banal. Leia este artigo, onde a liberdade de expressão é explicada minuciosamente e tire suas as dúvidas. Creio que isso só poderá ser discutido após aqueles que defendem a liberdade de expressão de uma forma egoísta compreenderem o que ela significa, mesmo.




Um comentário:

  1. Aqui na minha cidade teve uma manifestação sobre o aumento absurdo do vale transporte, algumas linhas já estão custando quase 5 reais. Menos de 50 pessoas compareceram. Apesar de ser algo mais regional, esperava poder ver um número maior de pessoas lutando por isso...aí a gente vê milhares de pessoas em marchas fúteis e um número tão pequeno destas em algo importante, é triste. rs. Mas também fiquei contente com a Marcha contra a corrupção...uma pontinha de esperança, rsrs.
    Sobre o Rafinha, acho que ele foi infeliz na piada. Não gosto e não assisto esse programa, assim como também não gosto e não acompanho o Rafinha Bastos. Então só fiquei a par lendo comentários sobre isso. Embora tenha sido "só uma piada", aff, não sei nem o que dizer quanto a isso. Mas está claro que ele não comeria o bebê, mas mesmo assim ele faltou com o respeito... Assim como tbm faltam com o respeito outros tipos de piadas, como as discriminatórias. O que acontece é que ele foi bem direto a ela. Se ele tivesse falado que "comeria uma mulher grávida" não teria tanto alarde, como acontece em piadas de loiras, loucos, gays, negros, portugueses etc; Não são direcionadas a uma única pessoa;
    Agora, se liberdade de expressão é, como vc disse, o direito de seres humanos se ofenderem mutuamente esquecendo do respeito, então sou sou contra ela, rs. O mundo já está sujo demais, não precisamos de ofensas e falta de respeito camufladas em piadinhas.
    E tbm acho que existe maneiras mais inteligentes de se fazer humor.

    Um post super inteligente Wendel, gosto da sua visão das coisas.

    Abraços
    Nelly
    =]

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